Home
Imagem: Jennifer reeves

Ana Hidalgo. Hallar una hendidura. Point de lunettes, 2011.


La madre de César Vallejo

Mi madre no era la afirmación de la existencia. Ella había percibido la belleza y el principio, ese suelo lleno de arena y esas manos que tocaban la arena del suelo, esa ropa manchada que su hija tenía que ofrecerle, pero mi madre no era la afirmación de la existencia, porque ella nunca había esperado una sincronización, nunca había esperado la liturgia del lugar, aunque durante un tiempo sí creyera en un pan que tocaba las manos y los labios. Pero a pesar de ese pan que quizá podía tocar las manos y los labios, mi madre no era la afirmación de la existencia, no era la creencia ni la liturgia del lugar, sino una mujer que inclinaba su cuerpo y levantaba su cuerpo, el sufrimiento y la visión, un fragmento del amor y el trabajo. Porque mi madre no era la afirmación de la existencia, sino que mi madre sufría, y ese sufrimiento me obligaba a las personas, me obligaba a conocer el nombre de las personas, a ser desnuda y mediada, la especificidad de la muerte, el tacto del desplazamiento, la descomposición de la sintaxis. Descompuse la sintaxis porque mi madre no era la afirmación de la existencia, no era mi destino, pero había un pan que tocaba las manos y los labios, un pan que comimos mi madre y yo, y entonces yo podía descomponer la sintaxis, amar la caída, ser la insignificancia. Mi madre era una vida.


A mãe de César Vallejo

A minha mãe não era a afirmação da existência. Ela tinha entendido a beleza e o princípio, esse chão cheio de areia e essas mãos que tocavam a areia do chão, essa roupa suja que a sua filha tinha que oferecer-lhe, mas a minha mãe não era a afirmação da existência, porque ela nunca tinha esperado uma sincronização, nunca tinha esperado a liturgia do lugar, ainda que durante um tempo sim acreditara num pão que tocava as mãos e os lábios. Mas apesar desse pão que talvez pudesse tocar as mãos e os lábios, a minha mãe não era a afirmação da existência, não era a crença nem a liturgia do lugar, mas uma mulher que inclinava o seu corpo e levantava o seu corpo, o sofrimento e a visão um fragmento do amor e o trabalho. Porque a minha mãe não era a afirmação da existência, senão que a minha mãe sofria, e esse sofrimento obrigava-me às pessoas, obrigava-me a conhecer o nome das pessoas, a ser nua e mediada, a especificidade da morte, o tato da deslocação, a descomposição da sintaxe. Descompus a sintaxe porque a minha mãe não era a afirmação da existência, não era o meu destino, mas havia um pão que tocava as mãos e os lábios, um pão que comemos a minha mãe e eu, e então eu podia decompor a sintaxe, amar a queda, ser a insignificância. A minha mãe era uma vida.