Home

Foto e obra de Joana Rego

“Como se desenha uma casa” de Manuel António Pina. (Assirio & Alvim, 2011).

.

Como se dibuja una casa

.

Primero se abre la puerta

por dentro sobre la tela inmadura donde previamente

se habían escrito palabras antiguas: el perro, el jardín ausente,

la madre para siempre muerta.

.

Anochece, apagamos la luz y, después,

como una foto que se guarda en la cartera,

se iluminan en la finca las flores del manzano

y, en el papel de pared, se remueven los recuerdos.

.

Protégete de ellos, de los recuerdos,

de su reposo, de sus conspiraciones;

usa colores desfasados, tonalidades pluscuamperfectas:

el rosa para las lágrimas, el azul para los sueños desvencijados.

.

Una casa es las ruinas de una casa,

una cosa amenazante a la espera de una palabra;

dibújala como quien embala un remordimiento,

con algún grado de abstracción y sin un plano riguroso.

.

Como se debuxa unha casa

.

Primeiro ábrese a porta

por dentro sobre a tela inmatura onde previamente

se escribiran palabras antigas: o can, o xardín ausente,

a nai para sempre morta.

.

Anoiteceu, apagamos a luz e, despois,

coma unha foto que se garda na carteira,

ilumínanse na finca as flores da maceira

e, no papel de parede, axítanse as lembranzas.

.

Protéxete delas, das lembranzas,

dos seus leceres, das súas conspiracións;

usa cores excesivas, tons pluscuamperfectos:

o rosa para as bágoas, o azul para os soños desfeitos.

.

Unha casa é as ruínas dunha casa,

unha cousa ameazadora á espera dunha palabra;

debúxaa coma quen embala un remorso,

con algún grao de abstracción e sen un plano rigoroso.

.

Como se desenha uma casa

.

Primeiro abre-se a porta

por dentro sobre a tela imatura onde previamente

se escreveram palavras antigas: o cão, o jardim impresente,

a mãe para sempre morta.

.

Anoiteceu, apagamos a luz e, depois,

como uma foto que se guarda na carteira,

iluminam-se no quintal as flores da macieira

e, no papel de parede, agitam-se as recordações.

.

Protege-te delas, das recordações,

dos seus ócios, das suas conspirações;

usa cores morosas, tons mais-que-prefeitos:

o rosa para as lágrimas, o azul para os sonhos desfeitos.

.

Uma casa é as ruínas de uma casa,

uma coisa ameaçadora à espera de uma palavra;

desenha-a como quem embala um remorso,

com algum grau de abstração e sem um plano rigoroso.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s