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A primeira urina da manhã. Cláudia R. Sampaio, Douda Correria, 2015.

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Sempre fui miúda de sonhos descabidos

miúda grotescamente poética,

chata de coisas que chateiam

de pernas fininhas que depois engrossaram

.

as miúdas poéticas são bobinas de filmes, riscadas

são gaitas desafinadas

onde muitos passaram os lábios

mas não ficaram

as miúdas poéticas contemplam o suicídio

mesmo depois de uma taça de Corn Flakes

olham os telhados laranja de Lisboa

e pensam noutro sítio qualquer

semeiam flores para terem perfumes

matam-nas, por amá-las de mais

.

as miúdas poéticas têm cabelos desmoronados

de beatas e perguntas

têm roupa de detergente barato

e as unhas roídas à la carte

tossem devagarinho com medo de

agredir alguém

têm posse de girafa mas não chegam às árvores


8

Sempre fun rapariga de soños disparatados

rapariga grotescamente poética,

molesta de cousas que molestan

de pernas finiñas que despois anchearon

.

as raparigas poéticas son bobinas de filmes, riscadas

son gaitas desafinadas

onde moitos pasaron os beizos

mais non ficaron

as raparigas poéticas contemplan o suicidio

mesmo despois dunha cunca de Corn Flakes

ollan os tellados laranxa de Lisboa

e pensan noutro sitio calquera

sementan flores para teren perfumes

mátanas, por amalas demasiado

.

as raparigas poéticas teñen cabelos desguedellados

de cabichas e preguntas

teñen roupa de deterxente barato

e as unllas roídas à la carte

tosen a modiño con medo de

agredir alguén

teñen pose de xirafa mais non chegan ás árbores


8

Siempre fui niña de sueños descabellados

niña grotescamente poética,

molesta de cosas que molestan

de piernas delgaditas que después ensancharon

.

las niñas poéticas son bobinas de películas, rayadas

son gaitas desafinadas

donde muchos pasaron los labios

pero no se quedaron

las niñas poéticas contemplan el suicidio

incluso después de una taza de Corn Flakes

observan los tejados naranja de Lisboa

y piensan en otro sitio cualquiera

siembran flores para tener perfumes

las matan, por amarlas demasiado

.

las niñas poéticas tienen cabellos enmarañados

de colillas y preguntas

tienen ropa de detergente barato

e las uñas roídas à la carte

tosem despacito con miedo de

agredir a alguien

tiene pose de jirafa pero no llegan a los árboles

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