Víctor López Zumelzu
Guía para perderse en la ciudad.
Ripio Ediciones, 2010; Ediciones Liliputienses, 2014
Guia para se perder na cidade
1
Aproximou-se da janela para dar uma ideia exata
de um “feito”
Mas descobriu que não existe uma ideia exata
de um feito
Só um monte de folhas mortas a acumular-se
nas traseiras de um jardim
Um jardim que bem poderia ser
um jardim mental
onde se acumulam ideias, recordações ou a noção
que nós temos da palavra “recordações”
O certo é que se aproximou da janela
para dizer:
Olha, filho, esta folha que jaz aqui morta
enquanto tu crescias, ela também crescia,
enquanto tu aprendias no teu corpo os segredos
de uma linguagem feita de diferenças
ela também aprendia a ocupar um lugar no tempo
e no espaço delimitado pela palavra diferença
Inclusive já por esses anos um gajo chamado
Ludwig Wittgenstein dizia ao seu amante ao ouvido
Há tantas palavras invisíveis que desejo ouvir
Só para dizer algumas coisas que aconteceram aqui
durante a tua ausência
Metade da casa foi desmantelada para dar lugar
a uma estrada de alta velocidade
os meus dentes cariaram
e a tua irmã deprimiu
até ao ponto de desaparecer
Então, quantas visitas ao dentista serão necessárias
para que os dentes pareçam realmente brancos?
Brilhem
sem o sarro que por anos
se acumulou
Para que no final do dia com a boca anestesiada
possamos perguntar-nos
Agora quanto tempo é necessário
para aprender a sorrir?
Perguntas como estas não existem
e se existissem
A paisagem publicitária
que nos rodeia assemelhar-se-ia
a um monte de folhas mortas a acumular-se
nas traseiras de um jardim
Um jardim que bem poderia ser
um jardim mental
A última imagem que ela conserva dele
é partindo
sob um caminho escuro rodeado de ciprestes
Um homem é sempre um livro de gramática aberto
onde os fantasmas do contexto
giram sobre as suas mãos
Se digo isto pode ser agarrado por uma mão
também estou a dizer
o peso pode ser seguro pelas palavras
Quiçá o modo em que levamos a palavra abandono
inscrita no corpo
seja a razão pela qual ficamos
até tarde a pensar
nas folhas que caem no pátio de trás
sem que ninguém se aperceba
Então, quais serão as palavras
apropriadas para dizer
a alguém que o seu filho morreu?
Como é que um dia acaricias o rosto de alguém
e no seguinte dia esse alguém é um fantasma
temível e assustador?
O certo seria dizer que os jardineiros adormeceram
a cortar o mato e é tarde
A esta hora o pasto degolado, mutilado
começa a secar
e agora virá o difícil
Por onde começar uma conversa?
Como começar a fiar essa rede de associações que há
muito
os linguistas definiram como fala?
e que agora numa paisagem completamente estragada
abandonada
voltará a nascer
Há uma árvore à distância a curvatura do céu
torna-o possível
As palavras também sofrem na sua pele
a passagem do tempo
Na primavera os ciprestes movem-se com a brisa
As manchas nos lençóis são de um cinzento pálido
quase solar
Nessa manhã ele saiu cedo fez suas malas
ela contudo abriu as janelas
e o quarto encheu-se de luz
Uma pergunta não precisa de uma resposta
mas uma resposta precisa de ser interpretada
em função da pergunta
Às vezes as palavras são mais frias do que os objetos
os objetos precisam de ser observados cuidadosamente
As palavras são lentas
e provêm da garganta
O dia está repleto de palavras
e resume-se no horizonte
Um trabalhador cansado lá das alturas vê o seu filho
escrever um poema
Ele também constrói um edifício de palavras
no qual nunca viverão
Um edifício que sangra a ferida
do mundo
Um monte de imagens
que foram se acumulando
uma à outra
antes que viesse alguém e as varresse para debaixo
do tapete de uma vez
Não fiques com a luz acesa até tarde
dizia a minha mãe
A escura imobilidade das coisas que dorme
nos cantos como a poeira
Uma música que vai se formando
de fragmentos
Até trazer da infância
uma lufada turva de folhas
que foram se acumulando
sob um céu de nuvens luminosas
Quantas folhas podem cair no mesmo lugar
antes que nos nossos lábios se forme um pensamento?
Como se submerge por anos a dor para voltar
a emergir um dia qualquer
Na aprazível forma de um filme
em que começou a nevar
o branco refulge
e a única coisa que uma pessoa pode fazer
é sentar-se na cadeira
agasalhar-se
e tomar uma malga de sopa quente
Ela fez um colar com os vidros que estavam
espalhados no chão
depois veio alguém vestido de branco
declarou-a louca
e nunca mais voltou
Um livro precisa de ser lido pelo menos uma vez
para que as suas folhas não quebrem com o tempo
Uma paisagem de orações possíveis
e frases belas
que nada dizem
A escrita não é a representação do mundo
mas uma concessão a ele
Quantos livros pode uma pessoa ler na sua vida
e continuar a ter a sensação de vazio?
A janela partiu-se e os vidros ficaram espalhados
no chão
Um poema é um inventário
de silêncios
O meu avô acreditava que eu era demasiado índio
para ser seu parente
quando ia vê-lo ele não respondia à campainha da porta
da sua casa
até que um dia não respondeu mais
As flores no jardim acordam
Lá fora o canto dos pássaros
e o som dos carros-patrulha
seguram um discurso
Cada palavra tem uma representação mental
Assim como cada pessoa segura as suas próprias
perguntas e respostas
A débil distância que separa o aroma suave
de um corpo jovem
do intenso cheiro que exala um corpo
já senil
Apesar da chuva matinal o céu é de uma cor
fortemente alaranjada
As nuvens cinzentas retiram-se para uma paisagem
escrita uma e mil vezes
mas ainda assim repleta de incertezas.
De Guía para perderse en la ciudad.
1
Se acercó a la ventana para dar una idea exacta
de un “hecho”
Pero descubrió que no existe una idea exacta
de un hecho
Solo un montón de hojas muertas acumulándose
en la parte trasera de un jardín
Un jardín que lo más bien podría ser
un jardín mental
donde se acumulan ideas, recuerdos o la noción
que nosotros tenemos de la palabra “recuerdos”
Lo cierto es que se acercó a la ventana
para decir:
Mira hijo esta hoja que yace aquí muerta
mientras tú crecías, ella también crecía,
mientras aprendías en tú cuerpo los secretos
de un lenguaje hecho de diferencias
ella también aprendía a ocupar un lugar en el tiempo
y en el espacio delimitado por la palabra diferencia
Inclusive ya por esos años un tipo llamado
Ludwig Wittgenstein le decía a su amante al oído
Hay tantas palabras invisibles que deseo oír
Tan solo por decir algunas cosas que sucedieron aquí
durante tu ausencia
La mitad de la casa fue desmantelada para dar paso
a una carretera de alta velocidad
a mí se me cariaron los dientes
y tu hermana se deprimió
hasta el punto de desaparecer
Entonces ¿cuántas visitas al dentista serán necesarias
para que los dientes parezcan realmente blancos?
Brillen
sin el sarro que por años
se acumuló
Para que al final del día con la boca anestesiada
podamos preguntarnos
¿Ahora cuánto tiempo es necesario
para aprender a sonreír?
Preguntas como estas no existen
y si existieran
El paisaje publicitario
que nos rodea asemejaría
un montón de hojas muertas acumulándose
en la parte trasera de un jardín
Un jardín que lo más bien podría ser
un jardín mental
La última imagen que ella conserva de él
es marchándose
bajo un camino oscuro rodeado de cipreses
Un hombre es siempre un libro de gramática abierto
donde los fantasmas del contexto
giran sobre sus manos
Si digo esto puede ser sostenido por una mano
también estoy diciendo
la pesadez puede ser sostenida por las palabras
Quizás la manera en que llevamos la palabra abandono
inscrita en el cuerpo
sea la razón por la cual nos quedamos
hasta tarde pensando
en las hojas que caen en el patio de atrás
sin que nadie
se de cuenta
Entonces ¿cuáles serán las palabras apropiadas para decirle
a alguien que su hijo ha muerto?
¿Cómo es que un día acaricias el rostro de alguien
y al otro día ese alguien es un fantasma
temible y aterrador?
Lo cierto sería decir que los jardineros se durmieron
cortando la maleza y es tarde
A esta hora el pasto degollado, mutilado
se empieza a secar
y ahora vendrá lo difícil
¿Por dónde empezar una conversación?
¿Cómo empezar a hilar esa red de asociaciones que
hace mucho
los lingüistas definieron como habla?
y que ahora en un paisaje completamente derruido
abandonado
volverá a nacer
Hay un árbol a la distancia la curvatura del cielo
lo hace posible
Mi abuela de a poco vertía el té caliente
en el plato y lo soplaba
cuando llegue a la ciudad
me dijeron que tenía que olvidar
todas mis costumbres de campesino
el sonido de la lluvia en el lóbulo de la oreja
la camisa a cuadros
el tartamudeo que primero dobla las palabras
y luego las ideas
Las palabras también sufren en su piel
el paso del tiempo
En primavera los cipreses se mueven con la brisa
Las manchas en las sábanas
son de un gris pálido casi solar
Esa mañana él se marcho temprano
hizo sus maletas
ella en cambio abrió las ventanas
y la habitación se inundo de luz
Una pregunta no necesita de una respuesta
pero una respuesta necesita ser interpretada
en función de pregunta
A veces las palabras son más frías que los objetos
los objetos necesitan ser observados con detenimiento
Las palabras son lentas
y provienen de la garganta
El día está repleto de palabras
y se resume en el horizonte
Un obrero cansado desde las alturas mira a su hijo
escribir un poema
Él también construye un edificio de palabras
en el cual nunca vivirán
Un edificio que sangra la herida
del mundo
Un montón de imágenes
que se fueron acumulando
una a otra
antes de que viniera alguien y las barriera bajo
la alfombra de golpe
No te quedes con la luz prendida hasta tarde
decía mi mama
La oscura inmovilidad de las cosas que se duerme
en los ángulos como el polvo
Una canción que se fue formando
de a fragmentos
Hasta traer desde la infancia
una ráfaga turbia de hojas
que se fueron acumulando
bajo un cielo de nubes luminosas
¿Cuántas hojas pueden caer en el mismo lugar
antes de que en nuestros labios se forme
un pensamiento?
Cómo se sumerge por años el dolor para volver
a emerger un día cualquiera
En la apacible forma de una película
donde ha empezado a nevar
lo blanco refulge
y lo único que uno puede hacer
es sentarse en el sillón
abrigarse
y beber una taza de sopa caliente
Ella se hizo un collar con los cristales que estaban
esparcidos en el suelo
después vino alguien vestido de blanco
la declaró loca
y no volvió nunca más
Un libro necesita ser leído al menos una vez
para que sus hojas no se resquebrajen con el tiempo
Un paisaje de posibles oraciones
y frases hermosas
que no dicen nada
La escritura no es la representación del mundo
sino una concesión con él
¿Cuántos libros uno puede leer en su vida
y seguir teniendo la sensación de vacuidad?
La ventana se rompió y los cristales quedaron esparcidos
en el suelo
Un poema es un inventario
de silencios
Mi abuelo creía que yo era demasiado negro
como para ser familiar de él
cuando iba a verlo no respondía el timbre de la puerta
de su casa
hasta que un día no respondió más
Las flores en el jardín despiertan
Afuera el canto de los pájaros
y el sonido de las patrullas
sostienen un discurso
Cada palabra tiene una representación mental
Así como cada persona sostiene sus propias
preguntas y respuestas
La débil distancia que separa el suave aroma
de un cuerpo joven
del intenso olor que expele un cuerpo
ya senil
Pese a la lluvia matinal el cielo es de un color
fuertemente anaranjado
Las nubes grises se retiran hacia un paisaje
escrito una y mil veces
pero aun así repleto de incertidumbre
Agosto
¿Cuántas palabras existirán para nombra la nieve,
el frío, el hielo, la escarcha?
La manera en que estamos aquí
en este espacio (tú leyendo)
y no allá
y decimos en la sala de clases
presente cuando se lee la lista
o simplemente pasamos
a no estar si no hablamos
con el tiempo aprendemos
que las cosas alrededor de nosotros
tienen un nombre
y nosotros también las aprendemos
a nombrar
esto es una silla
esto otro una carta
si deseas abrirla debes rasgar el sobre
Mi padre construyendo mi primera biblioteca se golpeó
el dedo tan fuerte que la uña se le cayó
Quedando en su lugar un espacio vacío
el cual yo siempre evité de mirar
Los recuerdos ya no son así de claros
El tiempo se ha plegado sobre ellos dejando entrever
una grieta oscura algo así como un significante
Pienso con frecuencia en aquello
que nos es difícil de recordar
las distorsiones narrativas
y poéticas a las que uno se ve expuesto
La lógica que guarda cada acto infinito
Una mariposa mueve sus alas en Quinta normal
y eso causa una tormenta
de proporciones de Rhode Island
Un lugar entre la falta de límite
o la falta de definición
La última vez que vi llorar a mi hermano fue cuando
se marcho al servicio militar
después volvió y su rostro era mucho más duro
indiferente
Cada país tiene una palabra para definir el miedo
La soledad
La música de los insectos en verano
La interpretación de la danza
de la naturaleza
La angustia de vivir pensando en el corazón
como un cazador solitario
incluso la idea de caza parece ser anterior a la misma idea
de representación
¿Cómo puede ser posible que alguien
haya decidido levantar un edificio
frente al paisaje que dibujaba todos los días
en su cuaderno?
Ahora no hay horizonte ni distancia visible
la distancia es un asunto de contexto piensa
Sin embargo un cuaderno vacío sin ninguna imagen
también es una imagen
No nos olvidemos que este texto
se compone de imágenes
Imágenes débiles
Imágenes sutiles
Imágenes que se duermen
en la velocidad de la lengua
Lo único que uno aprende con el tiempo
es abrocharse los zapatos
prepararse huevos revueltos
e intentar simular la falta de confianza
al nombrar los puntos oscuros
los vidrios rotos en los que ha chocado la nieve
Todo placer ha nacido de la necesidad
nos dice Hölderlin
y Joseph Brodsky nos dice al respecto que las cosas
se endurecen en la memoria
para que uno no pueda mudarlas de lugar
Pero todo depende del cristal
con que uno observe
el día o la noche
y como la imaginación es capaz de fundir
dos o más conceptos
en una imagen
La ventana ese año permaneció todo el tiempo cerrada
aún así el mundo afuera seguía
dando muestras de su existencia
Las gotas en el cristal,
la débil melodía de los pájaros
en la mañana
¿Cómo podremos reconocer algún día ante nosotros
lo que nunca antes hemos visto?
Cómo decir felicidad sin haber escuchado
nunca la palabra felicidad
En esta parte del texto hay algo indescifrable
una imagen que imita nuestra vida, que intenta
ser nuestra vida
La extensión es proporcional
al miedo
y ella la última imagen que conserva de él
es marchándose
bajo un camino oscuro rodeado de cipreses.
Revisora da tradução para o Português: Sara I. Veiga