Mea Culpa. de O Peixe na água (el pez en el agua). (& etc. 1993)
.
MEA CULPA
Lamento profundamente
la camada ahogada
por Maria do Carmo
a mi pedido
la aflicción de Nariz Branco
los gatitos mojados
que yo recogí en la finca
de las Federicas
que habían tenido el coraje
de regarlos
pero que me habían dicho
que yo no tenía el coraje
la gata se vuelve contra si
llevé los gatitos
en la bolsa de plástico
para casa
Nariz Branco nunca
me hizo ningún mal
quise evitarle los frutos del vientre
de la gata
al sufrimiento
o antes quise
evitarme a mí
el sufrimiento
de ver a los gatos crecer sufriendo
porque todo lo que nace
es para sufrir
como decía Ireninha
*
En el cuarto de la tía Paulina
a la luz de la lamparita
desnudé a Gito
mi enfermo
que para mi gran sorpresa
no era como yo
¡Mira, tiene una campana!
dije yo en voz alta
e iba a tocarla
para bochorno de Ana Isabel
mi prima directa
mayor que yo
cuatro años
(Gito
hijo de Maria Sapateira
hasta hoy
nunca más lo vi)
Mariuccia,
prim tettin de la mia vita
escribió Franco Loi
antes que yo
y yo después escribí esto
*
(Miércoles de ceniza)
Entre las paredes sin acabar
de la Facultad de Ciencias
están los retratos de los muertos
es una exposición de fotografías
los visitantes no lloran
ni traen flores
y si están vestidos de negro
es porque está de moda
morgue carnicería sepultura
santuario rupestre de Panóias
al mismo tiempo
un visitante se quejó
de los ronquidos de los dinosaurios
de plástico
en el libro de impresiones
pero aquí, como en la vida
un tabique separa el horror
del resto
24.II.93
*
El mongólico se alegra
por el viaje en autobús
al cual nadie más encuentra gracia
y el retrasado mental se divierte
con la caja de sostenes vacía
que trae una chica en la tapa
con un simple sostén blanco
y aire aseado
dos penas vivas para los otros
pobres de espíritu ricos de espíritu
basura biológica de la lucha por la vida
ganadores
alquimistas
*
La abuela Alda de residencia de la tercera edad
en residencia de la tercera edad
hasta morir
huyendo a la calle
rompiendo los brazos
arañando a la caboverdiana
contratada para cuidar
de ella
se arrancó los anillos de los dedos deformados
y fue a ponerlos en la tierra de la maceta
de la begonia
en el balcón
MEA CULPA
Lamento profundamente
a ninhada afogada
pela Maria do Carmo
a meu pedido
a aflição do Nariz Branco
os gatinhos molhados
que eu recolhi no quintal
das Fredericas
que tiveram coragem
para os regar
mas que me disseram
eu não tinha coragem
a gata volta-se contra si
levei os gatinhos
no saco de plástico
para casa
o Nariz Branco nunca
me fez mal
quis poupar os frutos do ventre
da gata
ao sofrimento
ou antes quis
poupar-me a mim
o sofrimento
de ver os gatos crescer a sofrer
porque tudo o que nasce
é para sofrer
como dizia a Ireninha
*
No quarto da tia Paulina
à luz da lamparina
despi o Gito
o meu doente
que para grande surpresa
minha
não era como eu
Olha, tem um sino!
disse eu em voz alta
e ia-lhe tocar
para embaraço da Ana Isabel
minha prima direita
mais velha do que eu
quatro anos
(o Gito
filho da Maria Sapateira
até hoje
nunca mais o vi)
Mariuccia,
prim tettin de la mia vita
escreveu Franco Loi
antes de mim
e eu depois escrevi isto
*
(Quarta-feira de cinzas)
Entre as paredes por acabar
da Faculdade de Ciências
estão os retratos dos mortos
é uma exposição de fotografias
os visitantes não choram
nem trazem flores
e se estão vestidos de preto
é porque é moda
morgue talho jazigo
santuário rupestre de Panóias
ao mesmo tempo
um visitante queixou-se
dos roncos dos dinossauros
de plástico
no livro de impressões
mas aqui como na vida
um tabique separa o horror
do resto
24.II.93
*
O mongolóide alegra-se
com a viagem de autocarro
a que mais ninguém acha graça
e o atrasado mental diverte-se
com a caixa de soutiens vazia
que traz uma menina na capa
com um simples soutien branco
e ar asseado
duas penas vivas para os outros
pobres de espírito ricos de espírito
lixo biológico da luta pela vida
ganhadores
alquimistas
*
Avó Alda de lar da terceira idade
em lar da terceira idade
até morrer
a fugir para a rua
a partir braços
a arranhar a cabo-verdiana
contratada para tomar
conta dela
arrancou os anéis dos dedos deformados
e foi pô-los na terra do vaso
da begónia
na varanda